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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

FAMIGLIA ORIONINA: Genova e Roma, al via il corso per managers orionini (IT - PT)


Em Genova, no dia 26 de janeiro, e em Roma, no dia 25 de fevereiro, pelo segundo ano consecutivo, teve início o curso de formação destinado aos principais colaboradores e responsáveis leigos das obras orionitas na Itália.


O plano de formação profissional tem como objetivo preparar qualitativamente os administradores de estruturas religiosas que atuam no contexto de ajuda à pessoa. O projeto é promovido pelas Províncias italianas dos Filhos da Divina Providência e das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade (Obra Dom Orione). A organização do curso foi confiada ao Endofap Liguria, sob a coordenação do Prof. Roberto Franchini, e utiliza um financiamento obtido pelo FONDER.


O curso prevê sessões residenciais em várias cidades, o uso de vídeo conferência e de outros recursos de multimídia entre os quais a Plataforma informática e-learning. O percurso didático é monitorado constantemente pela atividade de “tutorship” de cada Província. A primeira sessão de 12 horas de lição foi realizada em Genova, nos dias 26-27 de janeiro, e em Roma, em 25-26 de fevereiro.

Também este ano, as primeiras 4 lições foram realizadas pelo Superior geral, Pe. Flávio Peloso, que apresentou o quadro de identidade e de missão, que emerge do carisma de Dom Orione. “Falar da identidade carismática e apostólica das nossas obras – disse Pe. Flávio – não é um simples prólogo ideal e espiritual para o curso de administradores. De fato, é o carisma, traduzido na visão e projeto de instituição, que dá unidade de empresa e que deve modelar a condução das obras de caridade. Traduzir o carisma orionita segundo as dinâmicas de condução e de formação dos dependentes é indispensável para a qualidade dos serviços e para a qualidade apostólica da nossa instituição”.

O curso para administradores/responsáveis das obras é totalmente novo como projeto. O Superior geral decidiu apoiar de modo convicto a iniciativa: “O curso para administradores, que integra competências de gestão e de mediações carismáticas, é motivo de grande esperança para a Congregação na Itália no que diz respeito à fidelidade ao carisma. O “Ver e servir Cristo na pessoa humana se exprime de fato com muitas instituições educativas, caritativas e pastorais muito complexas. Somente a comunhão/colaboração entre religiosos e leigos, respeitadas as devidas competências, pode garantir a identidade apostólica das obras como “faróis de fé e de civilização”, segundo a conhecida expressão de Dom Orione”.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

TEMPO DA QUARESMA


Somos convidados a reviver os quarentas dias que Jesus passou no deserto se preparando para a sua missão.
Lembrando a caminhada dos quarentas anos do povo de Deus no deserto, somos convidados a nos preparar melhor para celebração anual da santa Páscoa por meio desse grande retiro da quaresma.
É tempo de nos consagrarmos mais à escuta da palavra de Deus, a oração, ao maior domínio de nós mesmos para nos converter ao Cristo e ao serviço generoso dos irmãos.

É bom acordar mais cedo para oração e ver como podemos intensificar mais que outros tempos, o nosso compromisso de fé.

A Campanha da Fraternidade nos pede para dar ao esforço da conversão, próprio da quaresma, uma dimensão comunitária e uma forma bem concreta que expresse nossa comunhão e solidariedade com os irmãos e irmãs que vivem situações dificeis.

“Deixando de lado tudo que ficou para trás,” dediquemos-nos aos ofícios com muito amor, e na alegria do Espírito Santo esperemos a santa Páscoa.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Quarta-feira de cinzas


Com a imposição das cinzas, se inicia uma estação espiritual para todo cristão que quer se preparar dignamente para viver o Mistério Pascal, quer dizer, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus. Inicia-se a quaresma.
Este tempo vigoroso do Ano litúrgico se caracteriza pela mensagem bíblica que pode ser resumida em uma palavra: "matanoeiete", que quer dizer "Convertei-vos". O rito da imposição das cinzas, com as palavras "Convertei-vos e crede no Evangelho" e com a expressão "Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás", convida a todos a refletir sobre o dever da conversão, recordando a fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

A cerimônia das cinzas eleva nossas mentes à realidade eterna que não passa jamais, a Deus; princípio e fim, alfa e ômega de nossa existência.

Na quarta-feira de cinzas, o Cristão recebe uma cruz na fronte com as cinzas obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior. Participe da missa nesta quarta-feira de cinzas dia 17/02/2010 na sua comunidade.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Hospital Dom Orione celebra o Dia Mundial do Doente











Ontem 11/02 Dia Mundial do Doente e consagrado a Nossa Senhora de Lourdes, no Hospital e Maternidade Dom Orione foi realizada às 16h a missa com os doentes, com benção do santíssimo e "Unção dos Enfermos".








Na mensagem do Papa Bento XVI para este dia nos chama a atenção para as "feridas do corpo e do espírito de tantos irmãos e irmãs nossos", evocando, a este respeito, a parábola evangélica do Bom Samaritano.








E o Papa ainda nos diz: "Com a graça de Deus, acolhida e vivida na vida de cada dia, a experiência da doença e do sofrimento pode tornar-se escola de esperança".








Que Nossa Senhora de Lourdes nos mostre a importância da oração, de prosseguirmos no caminho da conversão. De seguirmos seu exemplo de humildade, de termos misericórdia infinita para com os pecadores e cuidado com os doentes, e, cada vez mais, confiarmos em Deus.








quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Hospital e Maternidade Dom Orione comemora o aniversário do diretor presidente Pe. Márcio Almeida do Prado
















Ontem dia 10/02, foi comemorado o aniversário do Pe. Márcio Almeida do Prado, diretor presidente do Hospital e Maternidade Dom Orione.

A comemoração foi uma singela forma que os colaboradores e amigos encontraram para agradecer o carinho oferecido pelo Padre Márcio, que sempre atende a todos com muita dedicação.

Pe Márcio parabéns por esta data, que esta venha acompanhada de saúde, paz e grandes realizações.

São os votos de todos os colaboradores e amigos do HMDO.

Feliz Aniversário!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Missa de Entrega das Atividades do Ano de 2010
















Foi realizada nessa segunda-feira, dia 08 de fevereiro, a missa de Entrega das Atividades do Ano de 2010 do Hospital e Maternidade Dom Orione, celebrada pelo Pe. Márcio Almeida do Prado e concelebrada pelo Pe. Eduardo Silva Neves.



Participaram da missa Diretores, Gerentes, Coordenadores, Médicos, Colaboradores e Amigos do hospital. Todos apresentaram no altar do senhor os projetos e atividades a serem realizados neste ano.

Agradecemos aos presentes e esperamos sempre contar com a presença de todos nos eventos sociais e religiosos do nosso hospital.

MISSA DE ENTREGA DAS ATIVIDADES DO ANO DE 2010

Foi realizada nessa segunda-feira, dia 08 de fevereiro, a missa de Entrega das Atividades do Ano de 2010 do Hospital e Maternidade Dom Orione, celebrada pelo Pe. Márcio Almeida do Prado e concelebrada pelo Pe. Eduardo Silva Neves.


Participaram da missa Diretores, Gerentes, Coordenadores, Médicos, Colaboradores e Amigos do hospital. Todos apresentaram no altar do senhor os projetos e atividades a serem realizados neste ano.

Agradecemos aos presentes e esperamos sempre contar com a presença de todos nos eventos sociais e religiosos do nosso hospital.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O ORIONITA SACERDOTE


O ORIONITA SACERDOTE
Unidade de vocação e especificidade de ministério

30 de dezembro de 2009

Caríssimos Confrades,
No momento em que me ponho a escrever esta Circular na quietude devota e familiar do Eremitério de Santo Alberto, meu pensamento voa para a mudança de ano, voa para 2010 já tão próximo, e para a conclusão do sexênio 2004-2010 que baliza uma nova etapa de vida da Congregação.

O Capítulo geral, que concluiremos no próximo mês de junho, interpela a fidelidade criativa da Congregação. “Só a caridade de Cristo salvará o mundo”, somente a vida de Jesus sustenta e alimenta a vida da Congregação e de cada um de nós. No ícone de Dom Orione, escolhido pelo Capítulo geral, Jesus aparece pintado no coração do Fundador, ao mesmo tempo em que a chama da Caridade está acesa na sua mão. Como isso é significativo! É Jesus, o seu Espírito, a sua Caridade em nós, a fonte que alimenta a caridade das obras.

Somos feitos para Deus
Peço e espero que o Capítulo geral, já desenvolvido nas fases pessoal, comunitária e provincial, nos ajude a redescobrir o nosso ser para Deus, para a santidade.
Devemos ser “como hera agarrada a Cristo”, fazia eu votos na saudação natalina. Todos nós recebemos a graça de encontrar a árvore na qual nos enxertarmos, quem sabe, com ânsia e sofrida esperança, suplicando a vida. É a árvore da vida, a boa oliveira na qual fomos enxertados (Rm 11,24), a videira da qual somos ramos (Jo 15,1-6), a cruz de Cristo, da qual todos recebemos graça sobre graça, vida em abundância (Gal 2,20; Rm 6,5-11; Jo 10,10). “Estar com Cristo significa estar com a árvore da vida. Ele, de fato, é a árvore da vida para quem a Ele se liga” (Santo Agostinho).


Em Jesus, no Espírito de filhos, que alimenta a nossa vitalidade para o bem das Almas, é que está tecida e estruturada a nossa vida consagrada. Jesus chamou os Doze para que ficassem com Ele (cf. Mc 3,14), e eles se tornaram irmãos entre si e apóstolos para os outros. A vida religiosa é “apostolica vivendi forma”, justamente porque sua organização imita a dos apóstolos com Jesus.


É para buscarmos uma especial união com Jesus que nos conduz o Ano sacerdotal que o Papa Bento XVI instituiu para ser celebrado desde a solenidade do Sagrado Coração, 19 de junho de 2009, até a mesma solenidade de 2010, apresentando como modelo o Cura d’Ars, São João Maria Vianney, patrono dos párocos.


“O Ano Sacerdotal – explicou o Papa – pretende contribuir para promover o compromisso de renovação interior de todos os sacerdotes, para fortalecer seu testemunho evangélico no mundo de hoje”, e para que os sacerdotes se sintam “amigos de Cristo, por Ele particularmente chamados, escolhidos e enviados”.

O religioso orionita sacerdote

Neste contexto, julguei bem dedicar a reflexão desta Carta ao tema do sacerdote e mais particularmente à identidade e ao papel do religioso sacerdote. Perguntamo-nos: existe uma espiritualidade específica para o religioso sacerdote? Dom Orione nos transmitiu uma figura típica de religioso sacerdote segundo o carisma? A figura do orionita sacerdote é do mesmo tipo da figura do sacerdote diocesano com o simples acréscimo de algumas características de estilo e de espiritualidade?


Ao fenômeno da paroquialização da vida religiosa – de fato, chamada cada vez mais a suprir o insuficiente número do clero secular – não raro a corresponde a diocesenização dos religiosos sacerdotes. Para muitos que vivem o ministério sacerdotal na paróquia, o carisma e a vida religiosa podem reduzir-se a uma aura espiritual de uma vida substancialmente paroquial-diocesana. Para quem, ao invés, está mais envolvido nas atividades caritativas, educativas ou assistenciais, surge o risco de perder a dimensão pastoral-eclesial do ministério sacerdotal.


Não terá chegado o momento de tomarmos consciência, de avaliarmos e governarmos este fenômeno para fazer que surja melhor a unidade da vocação do religioso sacerdote nas mudadas condições eclesiais? O tema da identidade e do papel do religioso sacerdote é muito importante e crítico para o futuro da vida religiosa. Em nossa Congregação esse tema se apresenta com características comuns a todos os Institutos de vida consagrada e com outras características particulares que herdamos da nossa história e da situação atual.

Pretendo apresentar algumas notas sobre este tema, pois o julgo fundamental para o futuro da Congregação. O tema está presente na reflexão promovida pelo Capítulo geral, no 3° núcleo temático dedicado aos “Ministérios da caridade no contexto atual”. Com referência ao Capítulo, cada qual pode desde já refletir e tomar decisões para viver, pessoal e comunitariamente, a unidade da vocação de religioso-orionita-sacerdote.

Dualismo vocacional e desvio para a figura diocesana
No imaginário coletivo a figura do sacerdote está naturalmente identificada com o sacerdote-pároco ou o sacerdote na paróquia, o sacerdote diocesano.
Nos últimos 40 anos, depois do Concílio Vaticano II, esse tipo de sacerdote se tornou o modelo público e como que o único do ministério sacerdotal. O sacerdócio vivido segundo os carismas de vida religiosa (anteriormente a forma predominante) se tornou secundário em relação ao sacerdócio institucional, ligado à paróquia, à diocese e ao território.


Observa-se que “a figura do religioso presbítero foi deixada na sombra, não só na literatura teológica e pastoral, mas ainda pelos próprios documentos oficiais. tanto do magistério como da vida religiosa”. Com exceção de algum texto significativo, habitualmente quando se faz menção de religioso sacerdote, a sua figura e o seu papel são apresentados em circunlocuções do tipo “pro sua parte”, “igualmente o sacerdote religioso”, “por quanto possível”, aplicando ao sacerdote religioso quanto se disse a respeito do sacerdote diocesano. Inclusive a norma do Código sobre o sacerdócio diz respeito simplesmente ao sacerdote em quanto tal e a norma sobre a vida religiosa trata do religioso em geral.

Num mundo “secularizado” e “a ser evangelizado”, a dinâmica religioso-carismática a ser exercida pelo sacerdócio, que mira mais sobre o testemunho espiritual e caritativo, adquire um novo relevo e necessidade, em distinção e colaboração com a dinâmica diocesano-territorial. E, no entanto, a orientação atual, prevalente e crescente, é a de encaminhar também os religiosos sacerdotes ao serviço paroquial-territorial.


Muitos reconhecem nesta prevalência “diocesana” na concepção e na prática do ministério sacerdotal – assimilada inclusive pelos próprios religiosos – um dos fatores da crise da identidade do religioso sacerdote e da vida religiosa de forma geral.


Teólogos da vida religiosa e superiores religiosos apontam a necessidade de uma mais identificada compreensão e valorização do religioso sacerdote no quadro de uma realização pluralística do ministério ordenado na Igreja, na linha da Encíclica Pastores dabo vobis 31 e 74, onde se afirma que “os sacerdotes, que pertencem a ordens e a congregações religiosas, são uma riqueza espiritual para o inteiro presbitério diocesano, ao qual oferecem a contribuição de seus específicos carismas e de ministérios qualificados”. Dessa forma é recomendado um exercício pluriforme do ministério sacerdotal, segundo os carismas da vida religiosa, e uma tal comunhão diocesana dos religiosos sacerdotes que evite a sua diocesenização, o que constituiria um empobrecimento e não um enriquecimento para a missão da Igreja.
É a partir da consagração/missão segundo o carisma que se poderá superar o dualismo de religioso “e” sacerdote. Os diversos ministérios da caridade, inclusive o sacerdotal, são, de fato, funcionais em relação ao único fim apostólico carismático organicamente intrínseco à missão da Igreja. Aqui está a unidade e a igualdade entre religiosos sacerdotes e religiosos irmãos e aqui está a unidade vocacional do religioso sacerdote.

Carisma e identidade do orionita sacerdote

É fácil compor a lista das características espirituais e apostólicas do orionita sacerdote, simplesmente tomando a biografia e os escritos de Dom Orione. Aliás, isso já foi feito e é sempre de fundamental importância. Temos aí algo de específico, mas a maior parte do que encontramos se refere à identidade geral do orionita que, naquele tempo, valia primordialmente para o sacerdote.

Para definir a identidade do orionita sacerdote, parecer-me que seja mais frutuoso partir do núcleo carismático essencial transmitido por Dom Orione e bem conhecido na sua formulação: “Confiando na Divina Providência, colaborar para levar os pequenos, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, para ‘Instaurare omnia in Christo’, mediante as obras da caridade”.
Seguindo o impulso do Fundador, nossa Congregação deu prioridade aos ministérios da caridade e, seguindo essa dinâmica e finalidade, intuiu e praticou também o ministério sacerdotal de seus religiosos que Dom Orione queria que fossem “os padres que correm, trabalhadores e apóstolos do trabalho” (Scritti 55, 38), “homens assim...padres santos, não folgadões nem padres de sala de visita, mas apóstolos de coração do tamanho do mar, padres que nunca parassem e fossem à frente e que marchassem com “passo apostólico ” (Scritti 66, 454). A padres que lhe enviavam vocações escrevia que o seu não era um “Seminário destinado a formar padres seculares. Nosso seminário quer ser, com a graça de Deus, um pequeno Seminário de apóstolos da Fé e da caridade” (Scritti 93, 74). Nossas regras falam de um “corajoso apostolado de ponta” (Norma 116).

Don Orione - grande místico que “vivia em Deus, de Deus, e por Deus” – viveu e propôs uma vida pendular “do Deus adorado ao Deus servido no irmão”. Ele nos preparou a um apostolado extremamente ativo para tornar presente na sociedade Cristo e a Igreja, mediante as obras da caridade.


Não há dúvida que Dom Orione, com seus Filhos da Divina Providência, viveu o sacerdócio na forma de sua apostolicidade típica, popular e ousada, voltada para a unidade da Igreja, ao redor do Papa e dos Pastores, mediante as obras de caridade. Este é um dado essencial para nós hoje – foi essa a missão carismática que devemos identificar e tomar como modelo; é este o seu e nosso exercício do ministério sacerdotal. O ser orionita dá qualificação interior e caracteriza a modalidade do nosso sacerdócio.

A peculiaridade do religioso sacerdote consiste em viver e exercer o seu ministério em comunidade fraterna, seguindo uma particular dinâmica espiritual, na perspectiva da missão carismática comum. O sacerdócio não está “ao lado”, nem é uma “segunda identidade” com relação à vida religiosa, mas é expressão interna da identidade espiritual e apostólica do orionita, chamado a edificar e a difundir a Igreja mediante as obras da Caridade, incluindo a ação sacramental-pastoral. Isso vale tanto mais hoje que a Igreja recupera a Caridade como elemento constitutivo e ministerial da própria pastoral. Como lemos na carta Deus caritas est n. 22: “O exercício da Caridade… praticar o amor para com as viúvas e os órfãos, para com os encarcerados, os doentes e os necessitados de qualquer espécie faz parte da essência, tanto quanto o serviço dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho. A Igreja não pode desleixar o serviço da Caridade, da mesma forma como não pode deixar de lado os Sacramentos e a Palavra”.


Nós, orionitas sacerdotes, fomos educados para não considerar sacerdotais somente os atos que requerem os poderes conferidos pelo sacramento da ordem, por mais excelsos que eles sejam, tais como são os atos sacramentais. “Padres da estola e do trabalho”, nos quis Dom Orione, porque“ não é somente o padre com a estola no pescoço que pode fazer o bem, mas também o padre que trabalha”. Por isso a “diligente preparação ao sagrado ministério” dos religiosos orionitas aspirantes ao sacerdócio tem em conta, além da preparação para a “catequese, a pregação, o culto litúrgico e administração dos sacramentos” também “as obras de caridade” (Const 108).


Esse estilo peculiar vale também para a estrutura das nossas obras: “Ao lado de cada obra de culto surja sempre uma obra de caridade”. Todos recordamos muito bem como Dom Orione celebrou o seu jubileu sacerdotal junto ao clérigo Basílio Viano, doente, fazendo “aqueles serviços humildes, sim, mas santos que uma mãe faz para os seus meninos” e nos lembramos daquilo que ele depois escreveu: “Oh, muito melhor foi isso que todas as pregações que fiz… Senti que nunca tinha servido, de maneira mais sublime nem mais santa, a Deus no meu próximo, como naquele momento bem maior que todas as obras feitas nos vinte e cinco anos de meu ministério sacerdotal”.


Estas anotações não devem se reduzir unicamente a características da espiritualidade pessoal do orionita sacerdote. São indicações que apontam a estrutura da relação com a comunidade, com o apostolado de conjunto, com a finalidade carismática da Congregação. Do contrário, se cria o dualismo: religioso “e” sacerdote.


Concluindo, o sacerdócio do orionita se identifica, não pela exclusão de elementos, mas pela priorização da finalidade carismática do ministério da Caridade direcionado a fazer experimentar a paternidade de Deus e a maternidade da Igreja.

Prioridade da vocação religiosa

Dom Inazio Terzi, que foi superior geral e profundo conhecedor de Don Orione, observou corretamente que “em Dom Orione a vocação religiosa pessoal foi clara e precoce”, “poderíamos dizer, sem hesitar, que Dom Orione foi antes religioso” e que “ao indicar para os seus filhos o estado religioso, não apontava unicamente um meio como quê de reforço ou de maior potência interior” com respeito ao apostolado sacerdotal.


De fato, desde as origens da Pequena Obra da Divina Providência, o exercício do ministério sacerdotal, como expressão da primária vocação religiosa, realizado em sinergia com outros ministérios da caridade, para o cumprimento da missão típica e comum a todos os membros. Portanto “sacerdotes, clérigos, irmãos coadjutores, eremitas, mesmo tendo diferentes ministérios e diferentes mansões, nos sentimos uma única família” (Const 54). Dom Orione e os Confrades das primeiras gerações, as Constituições e a tradição, inclusive a mais recente da Congregação, reconhecem e vivenciam a prioridade vocacional da vida religiosa em relação ao ministério sacerdotal. Este é o modelo e o critério de renovação também nas mudadas condições de hoje. “Religioso” indica o status, é substantivo, e não adjetivo, do sacerdote.
Ainda hoje, a Congregação deve organizar os próprios ministérios orientando-os de acordo com a finalidade carismática de “levar os pequenos, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, para ‘Instaurare omnia in Christo’, mediante as obras da caridade”. E devemos acrescentar “lá onde as necessidades são maiores e menos atendidas”, porque Dom Orione insiste “é para os pobres” a formulação oficial do nosso carisma.


Esta imprescindível especificidade carismática do orionita sacerdote é “a nossa razão e forma de ser na Igreja”, é o nosso dom na Igreja comunhão.
Evidentemente o nosso ministério sacerdotal de orionitas, tanto nas paróquias como nas obras, se desenvolverá em colaboração com a Igreja local, com o Bispo e com o clero diocesano, mas tendo presente que, em toda Igreja local, é o clero diocesano que possui o específico carisma de governo e de serviço pastoral no território. Julgo contraditório dar ouvidos a alguns que, em nome da eclesialidade do carisma orionita justificam a renúncia a apresentar a própria identidade e pertença congregacional ou a limitam a coisa individual e ideal. Não, a nossa identidade – expressa também no apostolado e não só na espiritualidade – não representa nenhuma falta à comunhão eclesial, pelo contrário, é um dom .

Os três aspectos do serviço do ministério sacerdotal na vida religiosa
Por todos é sabido que o nosso Instituto è qualificado como clerical porque “segundo a finalidade e o projeto pretendido pelo Fundador, e em força da legítima tradição, é governado por clérigos, assume o exercício das ordens sagradas e, como tal, é reconhecido pela autoridade da Igreja” (cf. CIC 588 §2).


O fato que a nossa Congregação seja “clerical” implica em que seja reservado aos religiosos sacerdotes o serviço da autoridade, mas há dois outros tipos de serviço que os religiosos sacerdotes são chamados a prestar “segundo a finalidade ou o projeto pretendido pelo Fundador”: um em referência à comunidade e um em referência ao apostolado. Eles são chamados a ser “ministros de Deus, ardentes de zelo pelas almas… tanto as da comunidade, nas quais precederão a todos com o exemplo de uma vida religiosa coerente, como de quantos o Senhor confiar aos nossos cuidados, aos quais distribuirão o pão da Palavra e da Eucaristia” (Cost 55).


Além disso, nós orionitas sacerdotes devemos recordar que este ministério sacerdotal ad intra (em favor da comunidade e das obras) não é tudo; está em relação com o fim último ad extra, isto é, com a missão apostólica no horizonte eclesial-papalino de Instaurare omnia in Christo, fim último da comunidade religiosa e das obras de caridade.


Dom Orione, no famoso texto destinado ao Bispo Dom Bandi para responder às objeções sobre a universalidade no exercício das obras de misericórdia” e sobre as “exageradas incumbências que se propunha assumir a Obra da Divina Providência”, afirmou categoricamente que “ela tem uma única e bem determinada finalidade, que se propõe, e, quanto a si mesma, não se propõe nenhuma outra, e essa obra é a santificação de seus membros, dos quais o Instituto se compõe, com o intuito de introduzir no povo cristão um dulcíssimo amor ao Santo Padre” (Scritti 72, 185). Isto é, na Congregação o ministério sacerdotal, como todos os demais ministérios da caridade são endereçados e estão em função do fim apostólico carismático: “desenvolver no povo cristão um dulcíssimo amor ao Santo Padre”.


Que fique bem clara esta relação/relatividade do ministério com a finalidade carismática, se quisermos identificar e tornar dinâmicos os nossos ministérios da caridade sustentados pelo ministério sacerdotal. É essa comum identificação carismática que determina os traços característicos de cada ministério e atividade desenvolvidos por nós orionitas.
Deixando de descrever os traços característicos do orionita sacerdote, eu me limito a indicar três claras analogias entre a vida da Igreja no tempo de Dom Orione e a vida da Igreja de hoje, entre a identidade do sacerdote transmitida por Dom Orione e a desejada nos tempos de hoje.
Surgem com uma certa evidência três analogias: 1) a necessidade de fortalecer a unidade pastoral interna da Igreja; 2) a urgência de promover uma ação apostólica mais penetrante (hoje se diria a urgência da “nova evangelização” ou de uma “fronteira missionária”); e enfim 3) a convicção que a ação pastoral deva ser acompanhada pelo testemunho da caridade. A cada uma dessas necessidades da vida da Igreja correspondem atitudes, em Dom Orione e na identidade do orionita sacerdote por ele transmitida, atitudes que se podem resumir em três slogans bem conhecidos: 1) Padres filhos e não servos (ou seja: não meros funcionários); 2) Padres fora da sacristia; 3) Padres de mangas arregaçadas nas obras de caridade.

Ser religiosos “padres filhos, fora da sacristia e de mangas regaçadas” exige diversas modalidades concretas para o orionita nas obras e para o que estiver na paróquia, para o padre jovem e para o ancião, para quem é mais levado ao estudo, para a organização o para o trabalho manual, para quem se dedica mais aos jovens ou aos mais idosos, e assim por diante. Mas para todos significa vida sacrificada a Deus e doada ao bem do povo; em tempo integral e com paixão eclesial. “Com as devidas cautelas”, como escrevia Dom Orione, prudentes em respeitar os tempos de oração, de repouso, de estudo pessoal, mas prontos a aceitar uma piedade perturbada pela caridade para com o povo e uma pastoral sujeita aos regulamentos ordenados pelas necessidades alheias e aos apelos da Providência, prontos sempre, como uma mola esticada pela caridade, a voltar alegres a um ritmo mais de acordo com a regra.

O ano sacerdotal e o exemplo do santo Cura d’Ars

O ano sacerdotal é uma ocasião pastoral para tornar conhecida e amada a vocação e o serviço sacerdotal. Esperemos que sirva também para tornar conhecida e amada a específica vocação do religioso e do orionita sacerdote.


O Papa, entre as muitas figuras de santos sacerdotes, apresentou como modelo para o Ano Sacerdotal São João Maria Vianney. Uma figura de pároco de paróquia, porém a sua grandeza sacerdotal dá também para nós religiosos ótimos estímulos espirituais. Dom Orione costumava apresentá-lo como modelo de sacerdote, a ponto de nomeá-lo entre os seu santos intercessores no “Plano e programa da Pequena Obra da Divina Providência” e a ponto de marcar, na hora da refeição, a leitura da "vida do Venerável Cotolengo e do Cura d'Ars".


Dom Orione exaltava a pureza, o ardor, a caridade, “o ardor do tão humilde Cura d’Ars”, observando que “O Santo Cura d’Ars, a quem foi entregue a Paróquia porque alguém insinuou que, a final das contas, ele sabia rezar o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo, e, no entanto, ele se mostrou o maior e melhor confessor da França” (Parola IX, 498). “Como foi possível que o santo Cura d’Ars se tenha tornado o mais famoso confessor da França? Ele que, intelectualmente falando, era um quase descartado? Porque ele foi um profundo adorador da Eucaristia que cultivava o espírito de oração” (Parola IX, 395).


Dom Orione apresentava São João Maria Vianney, ao lado de São Francisco de Sales, de Dom Bosco, de São Vicente de Paulo, como exemplo de paz interior: “eles eram inimigos da pressa, e ninguém trabalhou mais do que eles! Gente de valia!”. Por outra parte observava Dom Orione que “O trabalho é a paz dos santos. Na vida dos santos não existe o “dolce far niente”(“sombra e água fresca”). Dom Bosco batalhava até arrebentar as pernas. Lacordaire, falando do Cura d’Ars, afirmou que ele tinha a ciência de Cristo” (Parola III, 41).


Em seus escritos Dom Orione cita o Cura d’Ars e muitas vezes repete a conhecida pergunta dele: “Que seria o mundo sem os Sacerdotes? E respondia o próprio Beato Cura d’Ars: a sociedade sem o sacerdócio seria uma jaula de animais ferozes, e o mundo recairia na pior barbárie» (Scritti 46, 218 e 56, 127).

Além da admiração, Dom Orione tinha devoção. Em seu caderno de celebrações anotou: “Recebi de um Padre velhinho, que me atendeu em confissão… um pedacinho de pano da batina do Beato Cura d’Ars” (Scritti 92, 17). Escrevendo a um sacerdote doente recomendou-lhe: “Procura um bom médico e vai fazer uma consulta e depois começa uma novena a São João Bosco e ao Santo Cura d’Ars” (Scritti 43, 212).
Mais ainda. Entre a espiritualidade de São João Maria Vianney e a de Dom Orione há muita afinidade.

O Pe. Venturelli qualifica a fé que havia em Dom Orione como “extremamente simples, fé que ia ao cerne… semelhante, à do Santo Cura d’Ars” (Positio super virtutibus, p.987). E também o Pe. Giuseppe Del Corno testemunhou: “Fazia-me grande impressão o espírito e o estilo das cartas que Dom Orione mandava da América. Nelas eu sempre notava algo do espírito e do estilo do Santo Cura d’Ars” (Ibidem, p.104).


Nosso Santo fundador assemelhou-se as Cura d’Ars sobretudo na paixão pelas Almas e na misericórdia para com os pecadores. Dom Orione desejava “abraçar a todos, exceto ao diabo e, se possível fosse, também a ele; abraçar a todos, menos ao erro manifesto; os transviados não só acolhê-los, mas correr atrás deles” (Scritti 81, 122). Movido pelo ímpeto da caridade chegou ao ponto de escrever: “Almas! Almas! Todas são amadas por Cristo, por todas Cristo deu a vida, todas Cristo quer salvas, entre seus braços e seu coração transpassado. Põe-me, Senhor, na boca do inferno, para que eu, pela tua misericórdia, o feche!”.

Expressões hiperbólicas para impressionar leitores ou ouvintes? Também São Paulo, usou palavras bem semelhantes quando disse: “Quisera verdadeiramente ser eu próprio anatematizado, separado de Cristo em favor de meus irmãos” (Rm 9,1-3). Nessa linha de ardor apostólico se movia igualmente o amável santo Cura d’Ars que gostaria de colocar seu confessionário na porta do inferno. “Se os infelizes condenados que estão no Inferno há tanto tempo ouvissem dizer: ‘Vai ser colocado um padre na entrada do inferno e todos que quiserem se confessar não precisam fazer mais nada, senão, irem-se embora; filhos meus, achais que sobraria alguém lá? Oh! num piscar dos olhos o inferno estaria vazio e o céu se encheria!”.
Ajudem-nos os exemplos do Cura d’Ars a vitalizar este ano sacerdotal e cresça o nosso zelo pelas Almas e a caridade pastoral, nutrida pela experiência da caridade de Deus. Como Bento XVI observou, “O Cura d’Ars, em seu tempo, soube transformar o coração e a vida de tantas pessoas, porque foi capaz de fazê-las perceber o amor misericordioso do Senhor. Urge em nosso tempo fazer ecoar essa boa nova pelo testemunho da verdade do Amor: Deus caritas est (1 Jo 4,8)”.


Fazer experimentar a verdade do Amor de Deus - Dom Orione diria “mediante as obras de caridade fazer experimentar a Providência de Deus” – é o dinamismo gerador da identidade do orionita sacerdote e de toda outra vocação orionita.


* * *



Concluo, caríssimos Confrades, com o convite a olhar para a frente e a viver o evento importante do próximo Capítulo Geral em espírito de fé e di comunhão. Os últimos quatro meses do ano foram caracterizados pela realização dos Capítulos nas Comunidades e nas Províncias da Congregação. Com o “caderno de preparação ao Capítulo” na mão e com as anotações pessoais, demos nossas contribuições ao tema geral do Capítulo “Só a caridade salvará o mundo. Fontes, relações, ministérios, vocações e novas fronteiras da caridade apostólica”. Fui informado de interessantes experiências, tanto das comunidades locais como dos Capítulos provinciais. Agora a documentação está chegando à Direção Geral e uma Comissão pré-capitular (01 a 10 de março) cuidará da preparar o Instrumentum laboris para o Capítulo Geral (30 de maio a 23 de junho). A boa participação dos Confrades è premissa de bons frutos.

Pelo fim de janeiro, juntamente com o Superior da Delegação Missionária de Língua inglesa, o Pe. Malcolm Dyer, irei à Coreia do Sul e lá, se Deus quiser, iniciaremos oficialmente a presença da Congregação com a assinatura do convênio com o Bispo de Masan que nos confiará o atendimento pastoral de um centro para imigrantes. Era a única nova abertura programada para o sexênio e estamos chegando exatamente no final. Prosseguiremos depois em visita às Filipinas onde receberei a Profissão perpétua do primeiro nosso clérigo filipino, Richard Maguad, e daremos um passo à frente para a abertura de uma terceira comunidade na diocese de Lucena.

Recomendo orações pelos caríssimos confrades que nos deixaram nestes últimos meses: Pe. Francisco Lucian, Pe. Jan Kawalko, Pe. Dante Barbaro, Pe. Luigi Candoni, Pe. José Francisco Ciccioli, Pe. Antônio Aparecido Da Silva e Pe. Secondo Ugo Vighi, dos quais se encontram maiores notícias no “Necrológio” dos Atti.
Unamos em nossos sufrágios as nossas Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade: Irmã Maria Elda, Irmã Maria Plautilla, Irmã Maria Luce, Irmã Maria Liliana, Irmã Maria Anna, Irmã Maria Sarina e Irmã Maria Kamila.


Um pensamento também pelos nossos parentes falecidos: o pai do Cl. Valery Brice Ramandrosomanana e do Pe. Getúlio Pereira Da Silva; a mãe do Pe. José Antonio Sanz del Hoyo, do Pe. Juan José Mettini, do Pe. Arcangelo Campagna; os irmãos do Pe. José Gilvan e do Cl. José Márcio Nascimento Silva; o Pe. Nivaldo Antonino, irmão do nosso Pe. Geraldo Dias; a irmã do Pe. Amedeo Mangino, do Pe. Settimo De Martin, do Pe. Joseph Van Cu N’Guyen, do Pe. Damiano Terenghi, do Pe. Stanisław Pawlina e a Irmã Emiliana, irmã de nossos confrades o Pe. Pietro e o Pe. Belisario Lazzarin.

Confiamos à divina misericórdia todos os nossos Amigos, Benfeitores, Ex-Alunos falecidos que contribuíram para o bem da Pequena Obra, entre os quais cito, por ter recebido notícia, Orazio Tonelli (Genova), Victor Signorio (Chile), Pedro Vianna (Brasil sul), José Batistella (Guararapes) e Nazzareno Malfatti, que foi nosso confrade e missionário(Chipre). A todos o Senhor lhes dê o seu eterno Amor.


Um pensamento e uma oração especial também por todos nossos enfermos: Deus lhes conceda a graça de aceitar e oferecer a Jesus seus momentos de dor, em espírito de apostolado.
A todos vá a minha cordial saudação acompanhada pela oração.
Em Cristo e em Dom Orione,


Sac. Flavio PELOSO, PODP
(superior geral)

NOTÍCIAS DE FAMÍLIA



Através da página www.donorione.org e de outros meios informáticos procuramos comunicar ordinariamente notícias e fatos de família. Recordo alguns eventos importantes e significativos.

No dia 8 de setembro, em Santo Alberto de Butrio presidi a celebração do rito de vestição do novo eremita Frei Evaristo Rolòn, argentino e já professo. E aproveito para dizer que este raminho da “planta” da Divina Providência - raminho exíguo mas significativo dos Eremitas - dá sinais de vitalidade: existe alguma vocação em caminho e no dia 17 de janeiro próximo, no Eremitério de Valença no Brasil, teremos um novo Frei Ave Maria (vidente) com a profissão do noviço Francisco das Chagas Alves Ramos.

Escrevi que em Zarqa (Jordânia) o deserto floresceu. E é verdade. Não somente pela Profissão perpétua do clérigo Hani. Depois de 25 anos de presença da Congregação na Jordânia, tive a possibilidade de ver o nosso Santuário da Rainha da Paz cheio de gente, sobretudo crianças, rapazes jovens. Encontrei uma numerosa comunidade cristã, alegre por participar, viva nas expressões. Aqui, era deserto também físico, quando chegaram os dois primeiros confrades, a casa era a última na periferia do grande deserto jordano. No início tinham somente a companhia de Jesus, a Missa e o tabernáculo. Depois, pouco a pouco cresceu o oásis da caridade, o Centro profissional, a Casa de acolhida, o Santuário. E o deserto floresceu.

Continuam as reuniões na Cúria e nas Províncias com regularidade, de todos os tipos. Recordo de modo particular, a da Coordenação central do Movimento Laical Orionita, em Roma, 8-11 de outubro de 2009, com os responsáveis das Coordenações das diversas nações, sob a presidência de Miguel Esser. O fruto mais importante foi a aprovação do Estatuto depois dos últimos retoques em vista do reconhecimento canônico. Durante o itinerário nos passos de Dom Orione em Roma, guiado por Ir. Jorge Silanes, os participantes reviveram eventos e ideais da vida de Dom Orione em alguns lugares famosos de Roma.

A manhã de 13 de outubro iniciou-se com uma notícia que rapidamente chegou em todos os órgãos de comunicação: caiu por terra a imagem da Madonnina do Centro Dom Orione de Monte Mário. A grande estátua de 9 metros, de bronze, dourada, despencou do seu pedestal de 19 metros, depois de um forte temporal com rajadas de vento violento. A imagem de Nossa Senhora foi colocada na colina de Monte Mário em 1953, logo depois de um voto popular da cidade de Roma (1.100.000 assinaturas) em 1944 durante a II guerra mundial. Tornou-se imediatamente familiar e querida aos Romanos que começaram a denominá-la "la Madonnina" não obstante a sua imponência. O evento, vivido quase como um luto, teve um êxito positivo na reação de afeto e de devoção de autoridades civis e eclesiásticas (também da parte do Papa e do Cardeal Vigário) e do povo da Capital que desejam rever o quanto antes a Madonnina com o seu gesto de benção no alto da colina.

Em outubro fiz uma Visita ao Brasil juntamente com Pe. Tarcisio Vieira. Eram muitos os eventos programados: encontros com os Conselhos provinciais, visita ao Teológico de Cotia, festa de Família orionita ao Santuário de Aparecida, participação na Assembléia do Instituto Secular Orionita em Valença (Anna Rita Orrù é a nova responsável geral), Belo Horizonte, Brasília, Goiânia. Sem dúvida as duas recordações mais marcantes no coração foram as duas últimas aberturas da Congregação no Brasil.
Em Itapoã, um aglomerado de 90.000 habitantes, acampados na periferia de Brasília em busca de futuro, foi iniciada uma nova paróquia há quatro anos. Visitando Itapoã foi impossível não recordar as palavras de Pio X a Dom Orione: “Mando você para a Patagônia… aqui em Roma, fora da porta San Giovanni: ali tudo deve ser feito”. Assim é Itapoã. É uma Patagônia às portas da moderna capital Brasília: ali tudo deve ser feito, estruturas civis e religiosas, começando pela igreja, e sobretudo é preciso fazer com que deixem de ser uma massa e formem um povo.
No dia 27 de outubro cheguei em Buritis, na Amazônia, situada a 3.300 quilômetros de São Paulo, apenas a 200 da fronteira com a Bolívia. É um outro mundo, uma terra de missão mesmo no interior do imenso Brasil. A Congregação assumiu uma nova missão em fevereiro de 2004 na cidade de Buritis e com tantas outras pequenas comunidades cristãs espalhadas por um vasto território, as mais distantes estão a 80/100 quilômetros da Igreja mãe. Não esquecerei jamais a comoção de Eniel, ancião, analfabeto e sábio responsável cristão: “Aqui éramos 12 cristãos e nos reuníamos numa igrejinha de madeira. Agora parece quase um sonho ver esta igreja grande e tanta gente freqüentando”.
O quinto núcleo temático do nosso próximo Capítulo geral fala de “partir novamente da Patagônia” (lugares pobres), de “partir novamente do pátio” (com os jovens), de “partir novamente com o saco” (de modo pobre). Pois bem, em Buritis e em Itapoã encontrei todas as três. Enquanto existirem estes desejos de partir de novo, a Congregação está bem e pode se esperar bem para o futuro. E Dom Orione aplaudirá do Paraíso.

Nos dias 12-14 de novembro participei da reunião plenária do Pontifício Conselho COR UNUM que reuniu eclesiásticos e leigos representantes das principais organizações católicas envolvidas no campo da caridade e da solidariedade. O tema da Plenária foi “Percursos formativos para os Operadores da Caridade”. O objetivo foi individuar modos e orientações com as quais realizar a indispensável “formação do coração” dos Operadores da caridade (Deus Caritas est 31). De fato, o secularismo da caridade, reduzido a solidariedade filantrópica, deve ser temido não menos do secularismo da fé, reduzida a ideologia de valores. Sempre tocante é o encontro com o Papa Bento XVI; ele nos recebeu e nos dirigiu algumas palavras. Tive a possibilidade de cumprimentar pessoalmente o Papa que se recordou da colaboração na Congregação para a Doutrina da Fé e depois me perguntou duas vezes: "E como estão os Orionitas? Como estão os orionitas?". Respondi: "Bem, Santidade, estão próximos do Sr. com a devoção e a oração".

Um outro evento que foi comentado em todo o mundo orionita, e não somente, foi o do dia 14 de novembro, com a nomeação do nosso Pe. Giovanni D'Ercole como Bispo Auxiliar de L'Aquila. A Família Orionita alegrou-se pela nomeação e a confiança que o Santo Padre depositou nele. Foi natural pensar que esta nomeação é em continuação com a ajuda de Dom Orione e da Congregação aos que sofreram o terremoto em Reggio e Messina (1908), Marsica (1915) e, nos tempos recentes, em Belice (1968), em Irpinia (1980). Ao anúncio seguiu-se a ordenação episcopal na Basílica de São Pedro no dia 12 de dezembro. Estavam presentes os bispos orionitas Andrea Gemma e Adolfo Uriona; depois a primeira Missa solene em nossa paróquia de Ognissanti (13 de dezembro) e finalmente o ingresso oficial na diocese de L’Aquila (20 de dezembro).
Falando de Bispos, Dom Enemésio Lazzaris continua com tanto zelo e dedicação em sua pobre diocese de Balsas no Brasil; Dom Aloísio Hilário de Pinho concluiu o seu serviço em Jataí: completados 75 anos, o Papa aceitou a sua renúncia; também Dom Miguel Mykycej completou os 75 anos, mas por enquanto continua o seu serviço na Eparquia argentina dos Ucranianos.

Como alguns desejaram, podem ser adquiridas cópias da estátua "vaticana" de Dom Orione, abençoada pelo Papa Bento XVI no dia 25 de junho de 2008. São de duas medidas: de m. 1,00 e de m.2,80; a primeira mais apta para capelas e ambiente interno, a segunda para igrejas, praças e monumentos externos. Estão disponíveis em vetroresina (cores mármore, bronze, cobre, argila) e em bronze. Os pedidos são feitos através da Cúria. As primeiras duas cópias foram destinadas para Cassano Ionio (22 de novembro), no centenário da abertura do orfanato de Dom Orione, e a Anzio.
A União dos Superiores Gerais (USG) realizou a sua assembléia geral semestral de 25 a 27 de novembro, na Universidade Salesianum de Roma. O tema de estudo e de debates foi "Justiça e culturas: percursos de futuro para a vida consagrada", a partir dos conteúdos do recente Sínodo para a África e da experiência da vida consagrada no continente africano. Foi enriquecedora. O Presidente da USG foi reconfirmado, Pe. Pascual Chavez Villanueva, reitor maior dos Salesianos.
O encontro anual dos dois Conselhos gerais PODP-PIMC e depois com os representantes do ISO e do MLO quase não é mais uma notícia porque tornou-se já um evento rotineiro, mas sempre importante. Ocorreu nos dias 28-29 de novembro: informação, programação, reflexão sobre alguns temas específicos da atividade das Congregações, ISO e MLO. Foi aprovado com muita satisfação o Estatuto do MLO que logo será apresentado ao Pontifício Conselho dos Leigos para o reconhecimento canônico. No decorrer da reunião Pe. Giuseppe Vallauri informou que a causa da Serva de Deus Ir. Maria Plautilla passou pelo exame da Consulta dos Teólogos e por isso poderá ser declarada “Venerável”; o exame da causa dos dois Mártires orionitas espanhóis está programada pra o início deste ano de 2010.
No início de dezembro estive em Burkina Faso e Costa do Marfim para visitar a Vice-Provincia Notre Dame d’Afrique. Encontrei os filósofos de Ouagadougou, uns 36, e 13 destes entrara no Postulantado. Juntamente com P. Mathieu Zongo estive em Tampellin, na diocese de Koupela, para conhecer uma obra que a associação italiana “Projeto Família” pretende doar-nos para realizar um ambulatório médico e um centro pastoral. Tampellin se encontra na metade da estrada entre a nossa comunidade de Ouagadoudou e a de Bogou-Bombouaka (Togo), numa zona rural muito pobre e abandonada, sem qualquer iniciativa pública. 49% dos habitantes tem menos de 15 anos.


Transferi-me depois para Costa do Marfim, depois dos belíssimos dias passados com os clérigos do novo instituto de Anyama, nos dias 6 e 7 de dezembro, grande festa para a inauguração do novo Santuário de Nossa Senhora da Guarda na colina de Bonoua. Teve também a ordenação de três novos diáconos orionitas: André Fidèle Tano, Constant Dabiré e Pascal Monsso. “O futuro é negro” disse com simpatia Pe. Riccardo Zagaria, missionário na África. Os 15 clérigos do Instituto de teologia, os 15 clérigos do tirocínio, os 11 noviços e os 36 seminaristas de filosofia dão razão ao que disse. Que bonita esperança para a África orionita! Pude participar também da Assembléia capitular da Vice-Província (8-10 dezembro) e ofereci a eles algumas reflexões depois enviadas a todos os Confrades do continente negro como Carta circular “Africa orionita em caminho à luz do Sínodo para a África”.

A conclusão do ano, no dia 20 de dezembro, reservou-nos ainda a comovente ordenação diaconal de Hani Al Jamiil, nascido em Mosul (Karakosh), a antiga Ninive, no Iraque. Celebrou em rito siríaco o tio bispo, Dom Mikahel Al Jamiil, com partes do rito em aramaico, a língua de Hani e do seu povo, a língua que falava também Jesus.

Depois dos votos de Bom Natal e feliz Ano novo 2010, o último evento foi o Ano Novo alternativo que reuniu em Roma 150 jovens provenientes de diversos lugares da Itália e não somente. Reflexões, visitas em Roma, orações, alegria e depois todos para a Praça São Pedro para saudar debaixo da janela do Papa a chegada do novo ano. A chuva caiu durante a noite, mas de manha a recitação do Angelus com o Papa e a menção do encontro recompensou tanta devoção.


Sac. Flavio Peloso

Justiça é tema central da mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2010


Cidade do Vaticano (Quinta-feira, 04-02-2010) "A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3,21 - 22 )", as palavras de São Paulo, tomadas da Carta aos romanos, são o tema central da mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma de 2010, apresentada hoje em coletiva de imprensa pela Sala de Imprensa do Vaticano. O Santo Padre, este ano, exorta a refletir sobre o tema da justiça.


A mensagem é dividida em quatro partes: ‘Justiça: "dare cuique suum"'; ‘De onde vem a injustiça?'; ‘Justiça e Sedaqah' e ‘Cristo, justiça de Deus'. Na primeira parte, o Papa cita Ulpiano, jurista romano do século III, e explica o significado da palavra "justiça", que na linguagem comum implica "dar a cada um o que é seu - dare cuique suum".


Logo depois acrescenta: "Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais íntimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado à sua imagem e semelhança".

"A justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o "seu" que lhe é devido." Deve-se entender antes a origem da injustiça, que, como "fruto do mal, não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal.", continua o texto.


O Santo Padre diz ainda que o egoísmo é "uma força de gravidade estranha" e "um impulso profundo" que se encontra dentro do homem e que o torna "frágil" e "o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros".

O Papa cita a palavra hebraica Sedaqah, do Antigo Testamento, que significa justiça e também "a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo, de maneira especial o pobre, o estrangeiro, o órfão e a viúva". "Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre, o estrangeiro, o escravo", acrescenta Bento XVI. Segundo o pontífice, para ser justo o precisa sair da ilusão de auto-suficiência, que o fecha na injustiça.


"Converter-se a Cristo, - diz o Papa - acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto-suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência, indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade."

Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. É graças à ação de Cristo, arremata o Papa, nós podemos entrar na justiça "maior, que é aquela do amor, a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar." Além disso, "o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebam o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor."

Veja abaixo a íntegra da Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma:


"A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (Rom 3, 21-22)
Queridos irmãos e irmãs, todos os anos, por ocasião da Quaresma, a Igreja convida-nos a uma revisão sincera da nossa vida á luz dos ensinamentos evangélicos. Este ano desejaria propor-vos algumas reflexões sobre o tema vasto da justiça, partindo da afirmação Paulina: A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3,21 - 22 ).


Justiça: "dare cuique suum"


Detenho-me em primeiro lugar sobre o significado da palavra "justiça" que na linguagem comum implica "dar a cada um o que é seu - dare cuique suum", segundo a conhecida expressão de Ulpiano, jurista romana do século III. Porém, na realidade, tal definição clássica não precisa em que é que consiste aquele "suo" que se deve assegurar a cada um. Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais intimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado á sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais - no fim de contas o próprio Jesus se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam e certamente condena a indiferença que também hoje condena centenas de milhões de seres humanos á morte por falta de alimentos, de água e de medicamentos -, mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o "suo" que lhe é devido. Como e mais do que o pão ele de fato precisa de Deus. Nora Santo Agostinho: se " a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu...não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus" (De civitate Dei, XIX, 21).


De onde vem a injustiça?


O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus, que se inserem no debate de então acerca do que é puro e impuro: "Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos" (Mc 7,14-15.20-21). Para além da questão imediata relativo ao alimento, podemos entrever nas reações dos fariseus uma tentação permanente do homem: individuar a origem do mal numa causa exterior. Muitas das ideologias modernas, a bem ver, têm este pressuposto: visto que a injustiça vem "de fora", para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua atuação: Esta maneira de pensar - admoesta Jesus - é ingênua e míope. A injustiça, fruto do mal, não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. Reconhece-o com amargura o Salmista: "Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-se no pecado" (Sl. 51,7). Sim, o homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro. Aberto por natureza ao fluxo livre da partilha adverte dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros: é o egoísmo, conseqüência do pecado original. Adão e Eva, seduzidos pela mentira de Satanás, pegando no fruto misterioso contra a vontade divina, substituíram á lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição; á lógica do receber, da espera confiante do Outro, aquela ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (cfr Gn 3,1-6) experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza.
Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?

Justiça e Sedaqah


No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus que "levanta do pó o indigente (Sl. 113,7) e justiça em relação ao próximo. A própria palavra com a qual em hebraico se indica a virtude da justiça, sedaqah, exprime-o bem. De fato sedaqah significa, dum lado à aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo (cfr Ex 29,12-17), de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e á viúva (cfr Dt 10,18-19). Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, para o israelita nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Não é por acaso que o dom das tábuas da Lei a Moisés, no monte Sinai, se verifica depois da passagem do Mar Vermelho. Isto é, a escuta da Lei, pressupõe a fé no Deus que foi o primeiro a ouvir o lamento do seu povo e desceu para o libertar do poder do Egito (cfr Ex s,8). Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre (cfr.Ecli 4,4-5.8-9), o estrangeiro (cfr Ex 22,20), o escravo (cfr Dt 15,12-18). Para entrar na justiça é portanto necessário sair daquela ilusão de auto - suficiência , daquele estado profundo de fecho, que á a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário um "êxodo" mais profundo do que aquele que Deus efetuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, é impotente a realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?


Cristo, justiça de Deus


O anuncio cristão responde positivamente á sede de justiça do homem, como afirma o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: "Mas agora, é sem a lei que está manifestada a justiça de Deus... mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os crentes. De fato não há distinção, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, por meio da redenção que se realiza em Jesus Cristo, que Deus apresentou como vitima de propiciação pelo Seu próprio sangue, mediante a fé" (3,21-25). Qual é, portanto a justiça de Cristo? É antes de mais a justiça que vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura si mesmo e os outros. O fato de que a "expiação" se verifique no "sangue" de Jesus significa que não são os sacrifícios do homem a libertá-lo do peso das suas culpas, mas o gesto do amor de Deus que se abre até ao extremo, até fazer passar em si " a maldição" que toca ao homem, para lhe transmitir em troca a "bênção" que toca a Deus (cfr Gal 3,13-14). Mas isto levanta imediatamente uma objeção:


Que justiça existe lá onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo? Desta maneira cada um não recebe o contrário do que é "seu"? Na realidade, aqui manifesta-se a justiça divina, profundamente diferente da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante. Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se, porque ele põe em evidencia que o homem não é um ser autárquico, mas precisa de um Outro para ser plenamente si mesmo. Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência - indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade.


Compreende-se então como a fé não é um fato natural, cômodo, obvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do "meu", para me dar gratuitamente o "seu". Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitencia e da Eucaristia. Graças á ação de Cristo, nós podemos entrar na justiça “maior", que é aquela do amor ( cfr Rom 13,8-10), a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.


Precisamente fortalecido por esta experiência, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor. Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma culmina no Tríduo Pascal, no qual também este ano celebraremos a justiça divina, que é plenitude de caridade, de dom, de salvação. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autentica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça. Com estes sentimentos, a todos concedo de coração, a Bênção Apostólica".

Vaticano, 30 de Dezembro de 2009.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

CAMPANHA DA FRATERNIDADE


ENTENDENDO O QUE É ECONOMIA

A palavra “economia” é muito utilizada hoje com diferentes sentidos. Em geral, quando as pessoas falam em economia, estão falando em diminuir os custos ou em comprar algo com um preço inferior ao que se encontra comumente no mercado. É o uso proveitoso e moderado do dinheiro ou a arte de poupar.

Até mesmo a teologia usa o termo economia em sentido próprio quando fala em “economia da salvação”, entendendo com isso o conjunto de bens necessários à salvação da humanidade.

Existe também a compreensão Científica desse termo, segundo a qual economia é a ciência que estuda as leis que regulam a produção, a distribuição e o consumo dos bens materiais.

O texto-base da Campanha da Fraternidade ecumênica de 2010 não apresenta uma definição de economia. A compreensão do termo não foge muito das idéias apresentadas acima: ou seja, podemos compreender economia como o conjunto dos bens produzidos pela sociedade e os princípios e meios utilizados para a sua produção, como a extração, a manufatura, o artesanato e a produção industrial. De igual modo devemos levar em consideração as diferentes formas de distribuição desses bens, como o comércio, a troca, as doações etc. As formas de utilização dos bens também são importantes na compreensão da economia.

Mas, para a Campanha da Fraternidade, o mais importante é responder à pergunta: qual é a finalidade da economia? Se é simplesmente o acúmulo financeiro, o individualismo, o consumismo e a manipulação das pessoas, a economia é imoral; mas, se é a satisfação das necessidades básicas de todas as pessoas, a garantia de direitos e a promoção do bem comum, então é uma manifestação da vontade de Deus.

Pe. José Adalberto Vanzella
( Secretário-executivo da CF)