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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O ORIONITA SACERDOTE


O ORIONITA SACERDOTE
Unidade de vocação e especificidade de ministério

30 de dezembro de 2009

Caríssimos Confrades,
No momento em que me ponho a escrever esta Circular na quietude devota e familiar do Eremitério de Santo Alberto, meu pensamento voa para a mudança de ano, voa para 2010 já tão próximo, e para a conclusão do sexênio 2004-2010 que baliza uma nova etapa de vida da Congregação.

O Capítulo geral, que concluiremos no próximo mês de junho, interpela a fidelidade criativa da Congregação. “Só a caridade de Cristo salvará o mundo”, somente a vida de Jesus sustenta e alimenta a vida da Congregação e de cada um de nós. No ícone de Dom Orione, escolhido pelo Capítulo geral, Jesus aparece pintado no coração do Fundador, ao mesmo tempo em que a chama da Caridade está acesa na sua mão. Como isso é significativo! É Jesus, o seu Espírito, a sua Caridade em nós, a fonte que alimenta a caridade das obras.

Somos feitos para Deus
Peço e espero que o Capítulo geral, já desenvolvido nas fases pessoal, comunitária e provincial, nos ajude a redescobrir o nosso ser para Deus, para a santidade.
Devemos ser “como hera agarrada a Cristo”, fazia eu votos na saudação natalina. Todos nós recebemos a graça de encontrar a árvore na qual nos enxertarmos, quem sabe, com ânsia e sofrida esperança, suplicando a vida. É a árvore da vida, a boa oliveira na qual fomos enxertados (Rm 11,24), a videira da qual somos ramos (Jo 15,1-6), a cruz de Cristo, da qual todos recebemos graça sobre graça, vida em abundância (Gal 2,20; Rm 6,5-11; Jo 10,10). “Estar com Cristo significa estar com a árvore da vida. Ele, de fato, é a árvore da vida para quem a Ele se liga” (Santo Agostinho).


Em Jesus, no Espírito de filhos, que alimenta a nossa vitalidade para o bem das Almas, é que está tecida e estruturada a nossa vida consagrada. Jesus chamou os Doze para que ficassem com Ele (cf. Mc 3,14), e eles se tornaram irmãos entre si e apóstolos para os outros. A vida religiosa é “apostolica vivendi forma”, justamente porque sua organização imita a dos apóstolos com Jesus.


É para buscarmos uma especial união com Jesus que nos conduz o Ano sacerdotal que o Papa Bento XVI instituiu para ser celebrado desde a solenidade do Sagrado Coração, 19 de junho de 2009, até a mesma solenidade de 2010, apresentando como modelo o Cura d’Ars, São João Maria Vianney, patrono dos párocos.


“O Ano Sacerdotal – explicou o Papa – pretende contribuir para promover o compromisso de renovação interior de todos os sacerdotes, para fortalecer seu testemunho evangélico no mundo de hoje”, e para que os sacerdotes se sintam “amigos de Cristo, por Ele particularmente chamados, escolhidos e enviados”.

O religioso orionita sacerdote

Neste contexto, julguei bem dedicar a reflexão desta Carta ao tema do sacerdote e mais particularmente à identidade e ao papel do religioso sacerdote. Perguntamo-nos: existe uma espiritualidade específica para o religioso sacerdote? Dom Orione nos transmitiu uma figura típica de religioso sacerdote segundo o carisma? A figura do orionita sacerdote é do mesmo tipo da figura do sacerdote diocesano com o simples acréscimo de algumas características de estilo e de espiritualidade?


Ao fenômeno da paroquialização da vida religiosa – de fato, chamada cada vez mais a suprir o insuficiente número do clero secular – não raro a corresponde a diocesenização dos religiosos sacerdotes. Para muitos que vivem o ministério sacerdotal na paróquia, o carisma e a vida religiosa podem reduzir-se a uma aura espiritual de uma vida substancialmente paroquial-diocesana. Para quem, ao invés, está mais envolvido nas atividades caritativas, educativas ou assistenciais, surge o risco de perder a dimensão pastoral-eclesial do ministério sacerdotal.


Não terá chegado o momento de tomarmos consciência, de avaliarmos e governarmos este fenômeno para fazer que surja melhor a unidade da vocação do religioso sacerdote nas mudadas condições eclesiais? O tema da identidade e do papel do religioso sacerdote é muito importante e crítico para o futuro da vida religiosa. Em nossa Congregação esse tema se apresenta com características comuns a todos os Institutos de vida consagrada e com outras características particulares que herdamos da nossa história e da situação atual.

Pretendo apresentar algumas notas sobre este tema, pois o julgo fundamental para o futuro da Congregação. O tema está presente na reflexão promovida pelo Capítulo geral, no 3° núcleo temático dedicado aos “Ministérios da caridade no contexto atual”. Com referência ao Capítulo, cada qual pode desde já refletir e tomar decisões para viver, pessoal e comunitariamente, a unidade da vocação de religioso-orionita-sacerdote.

Dualismo vocacional e desvio para a figura diocesana
No imaginário coletivo a figura do sacerdote está naturalmente identificada com o sacerdote-pároco ou o sacerdote na paróquia, o sacerdote diocesano.
Nos últimos 40 anos, depois do Concílio Vaticano II, esse tipo de sacerdote se tornou o modelo público e como que o único do ministério sacerdotal. O sacerdócio vivido segundo os carismas de vida religiosa (anteriormente a forma predominante) se tornou secundário em relação ao sacerdócio institucional, ligado à paróquia, à diocese e ao território.


Observa-se que “a figura do religioso presbítero foi deixada na sombra, não só na literatura teológica e pastoral, mas ainda pelos próprios documentos oficiais. tanto do magistério como da vida religiosa”. Com exceção de algum texto significativo, habitualmente quando se faz menção de religioso sacerdote, a sua figura e o seu papel são apresentados em circunlocuções do tipo “pro sua parte”, “igualmente o sacerdote religioso”, “por quanto possível”, aplicando ao sacerdote religioso quanto se disse a respeito do sacerdote diocesano. Inclusive a norma do Código sobre o sacerdócio diz respeito simplesmente ao sacerdote em quanto tal e a norma sobre a vida religiosa trata do religioso em geral.

Num mundo “secularizado” e “a ser evangelizado”, a dinâmica religioso-carismática a ser exercida pelo sacerdócio, que mira mais sobre o testemunho espiritual e caritativo, adquire um novo relevo e necessidade, em distinção e colaboração com a dinâmica diocesano-territorial. E, no entanto, a orientação atual, prevalente e crescente, é a de encaminhar também os religiosos sacerdotes ao serviço paroquial-territorial.


Muitos reconhecem nesta prevalência “diocesana” na concepção e na prática do ministério sacerdotal – assimilada inclusive pelos próprios religiosos – um dos fatores da crise da identidade do religioso sacerdote e da vida religiosa de forma geral.


Teólogos da vida religiosa e superiores religiosos apontam a necessidade de uma mais identificada compreensão e valorização do religioso sacerdote no quadro de uma realização pluralística do ministério ordenado na Igreja, na linha da Encíclica Pastores dabo vobis 31 e 74, onde se afirma que “os sacerdotes, que pertencem a ordens e a congregações religiosas, são uma riqueza espiritual para o inteiro presbitério diocesano, ao qual oferecem a contribuição de seus específicos carismas e de ministérios qualificados”. Dessa forma é recomendado um exercício pluriforme do ministério sacerdotal, segundo os carismas da vida religiosa, e uma tal comunhão diocesana dos religiosos sacerdotes que evite a sua diocesenização, o que constituiria um empobrecimento e não um enriquecimento para a missão da Igreja.
É a partir da consagração/missão segundo o carisma que se poderá superar o dualismo de religioso “e” sacerdote. Os diversos ministérios da caridade, inclusive o sacerdotal, são, de fato, funcionais em relação ao único fim apostólico carismático organicamente intrínseco à missão da Igreja. Aqui está a unidade e a igualdade entre religiosos sacerdotes e religiosos irmãos e aqui está a unidade vocacional do religioso sacerdote.

Carisma e identidade do orionita sacerdote

É fácil compor a lista das características espirituais e apostólicas do orionita sacerdote, simplesmente tomando a biografia e os escritos de Dom Orione. Aliás, isso já foi feito e é sempre de fundamental importância. Temos aí algo de específico, mas a maior parte do que encontramos se refere à identidade geral do orionita que, naquele tempo, valia primordialmente para o sacerdote.

Para definir a identidade do orionita sacerdote, parecer-me que seja mais frutuoso partir do núcleo carismático essencial transmitido por Dom Orione e bem conhecido na sua formulação: “Confiando na Divina Providência, colaborar para levar os pequenos, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, para ‘Instaurare omnia in Christo’, mediante as obras da caridade”.
Seguindo o impulso do Fundador, nossa Congregação deu prioridade aos ministérios da caridade e, seguindo essa dinâmica e finalidade, intuiu e praticou também o ministério sacerdotal de seus religiosos que Dom Orione queria que fossem “os padres que correm, trabalhadores e apóstolos do trabalho” (Scritti 55, 38), “homens assim...padres santos, não folgadões nem padres de sala de visita, mas apóstolos de coração do tamanho do mar, padres que nunca parassem e fossem à frente e que marchassem com “passo apostólico ” (Scritti 66, 454). A padres que lhe enviavam vocações escrevia que o seu não era um “Seminário destinado a formar padres seculares. Nosso seminário quer ser, com a graça de Deus, um pequeno Seminário de apóstolos da Fé e da caridade” (Scritti 93, 74). Nossas regras falam de um “corajoso apostolado de ponta” (Norma 116).

Don Orione - grande místico que “vivia em Deus, de Deus, e por Deus” – viveu e propôs uma vida pendular “do Deus adorado ao Deus servido no irmão”. Ele nos preparou a um apostolado extremamente ativo para tornar presente na sociedade Cristo e a Igreja, mediante as obras da caridade.


Não há dúvida que Dom Orione, com seus Filhos da Divina Providência, viveu o sacerdócio na forma de sua apostolicidade típica, popular e ousada, voltada para a unidade da Igreja, ao redor do Papa e dos Pastores, mediante as obras de caridade. Este é um dado essencial para nós hoje – foi essa a missão carismática que devemos identificar e tomar como modelo; é este o seu e nosso exercício do ministério sacerdotal. O ser orionita dá qualificação interior e caracteriza a modalidade do nosso sacerdócio.

A peculiaridade do religioso sacerdote consiste em viver e exercer o seu ministério em comunidade fraterna, seguindo uma particular dinâmica espiritual, na perspectiva da missão carismática comum. O sacerdócio não está “ao lado”, nem é uma “segunda identidade” com relação à vida religiosa, mas é expressão interna da identidade espiritual e apostólica do orionita, chamado a edificar e a difundir a Igreja mediante as obras da Caridade, incluindo a ação sacramental-pastoral. Isso vale tanto mais hoje que a Igreja recupera a Caridade como elemento constitutivo e ministerial da própria pastoral. Como lemos na carta Deus caritas est n. 22: “O exercício da Caridade… praticar o amor para com as viúvas e os órfãos, para com os encarcerados, os doentes e os necessitados de qualquer espécie faz parte da essência, tanto quanto o serviço dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho. A Igreja não pode desleixar o serviço da Caridade, da mesma forma como não pode deixar de lado os Sacramentos e a Palavra”.


Nós, orionitas sacerdotes, fomos educados para não considerar sacerdotais somente os atos que requerem os poderes conferidos pelo sacramento da ordem, por mais excelsos que eles sejam, tais como são os atos sacramentais. “Padres da estola e do trabalho”, nos quis Dom Orione, porque“ não é somente o padre com a estola no pescoço que pode fazer o bem, mas também o padre que trabalha”. Por isso a “diligente preparação ao sagrado ministério” dos religiosos orionitas aspirantes ao sacerdócio tem em conta, além da preparação para a “catequese, a pregação, o culto litúrgico e administração dos sacramentos” também “as obras de caridade” (Const 108).


Esse estilo peculiar vale também para a estrutura das nossas obras: “Ao lado de cada obra de culto surja sempre uma obra de caridade”. Todos recordamos muito bem como Dom Orione celebrou o seu jubileu sacerdotal junto ao clérigo Basílio Viano, doente, fazendo “aqueles serviços humildes, sim, mas santos que uma mãe faz para os seus meninos” e nos lembramos daquilo que ele depois escreveu: “Oh, muito melhor foi isso que todas as pregações que fiz… Senti que nunca tinha servido, de maneira mais sublime nem mais santa, a Deus no meu próximo, como naquele momento bem maior que todas as obras feitas nos vinte e cinco anos de meu ministério sacerdotal”.


Estas anotações não devem se reduzir unicamente a características da espiritualidade pessoal do orionita sacerdote. São indicações que apontam a estrutura da relação com a comunidade, com o apostolado de conjunto, com a finalidade carismática da Congregação. Do contrário, se cria o dualismo: religioso “e” sacerdote.


Concluindo, o sacerdócio do orionita se identifica, não pela exclusão de elementos, mas pela priorização da finalidade carismática do ministério da Caridade direcionado a fazer experimentar a paternidade de Deus e a maternidade da Igreja.

Prioridade da vocação religiosa

Dom Inazio Terzi, que foi superior geral e profundo conhecedor de Don Orione, observou corretamente que “em Dom Orione a vocação religiosa pessoal foi clara e precoce”, “poderíamos dizer, sem hesitar, que Dom Orione foi antes religioso” e que “ao indicar para os seus filhos o estado religioso, não apontava unicamente um meio como quê de reforço ou de maior potência interior” com respeito ao apostolado sacerdotal.


De fato, desde as origens da Pequena Obra da Divina Providência, o exercício do ministério sacerdotal, como expressão da primária vocação religiosa, realizado em sinergia com outros ministérios da caridade, para o cumprimento da missão típica e comum a todos os membros. Portanto “sacerdotes, clérigos, irmãos coadjutores, eremitas, mesmo tendo diferentes ministérios e diferentes mansões, nos sentimos uma única família” (Const 54). Dom Orione e os Confrades das primeiras gerações, as Constituições e a tradição, inclusive a mais recente da Congregação, reconhecem e vivenciam a prioridade vocacional da vida religiosa em relação ao ministério sacerdotal. Este é o modelo e o critério de renovação também nas mudadas condições de hoje. “Religioso” indica o status, é substantivo, e não adjetivo, do sacerdote.
Ainda hoje, a Congregação deve organizar os próprios ministérios orientando-os de acordo com a finalidade carismática de “levar os pequenos, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, para ‘Instaurare omnia in Christo’, mediante as obras da caridade”. E devemos acrescentar “lá onde as necessidades são maiores e menos atendidas”, porque Dom Orione insiste “é para os pobres” a formulação oficial do nosso carisma.


Esta imprescindível especificidade carismática do orionita sacerdote é “a nossa razão e forma de ser na Igreja”, é o nosso dom na Igreja comunhão.
Evidentemente o nosso ministério sacerdotal de orionitas, tanto nas paróquias como nas obras, se desenvolverá em colaboração com a Igreja local, com o Bispo e com o clero diocesano, mas tendo presente que, em toda Igreja local, é o clero diocesano que possui o específico carisma de governo e de serviço pastoral no território. Julgo contraditório dar ouvidos a alguns que, em nome da eclesialidade do carisma orionita justificam a renúncia a apresentar a própria identidade e pertença congregacional ou a limitam a coisa individual e ideal. Não, a nossa identidade – expressa também no apostolado e não só na espiritualidade – não representa nenhuma falta à comunhão eclesial, pelo contrário, é um dom .

Os três aspectos do serviço do ministério sacerdotal na vida religiosa
Por todos é sabido que o nosso Instituto è qualificado como clerical porque “segundo a finalidade e o projeto pretendido pelo Fundador, e em força da legítima tradição, é governado por clérigos, assume o exercício das ordens sagradas e, como tal, é reconhecido pela autoridade da Igreja” (cf. CIC 588 §2).


O fato que a nossa Congregação seja “clerical” implica em que seja reservado aos religiosos sacerdotes o serviço da autoridade, mas há dois outros tipos de serviço que os religiosos sacerdotes são chamados a prestar “segundo a finalidade ou o projeto pretendido pelo Fundador”: um em referência à comunidade e um em referência ao apostolado. Eles são chamados a ser “ministros de Deus, ardentes de zelo pelas almas… tanto as da comunidade, nas quais precederão a todos com o exemplo de uma vida religiosa coerente, como de quantos o Senhor confiar aos nossos cuidados, aos quais distribuirão o pão da Palavra e da Eucaristia” (Cost 55).


Além disso, nós orionitas sacerdotes devemos recordar que este ministério sacerdotal ad intra (em favor da comunidade e das obras) não é tudo; está em relação com o fim último ad extra, isto é, com a missão apostólica no horizonte eclesial-papalino de Instaurare omnia in Christo, fim último da comunidade religiosa e das obras de caridade.


Dom Orione, no famoso texto destinado ao Bispo Dom Bandi para responder às objeções sobre a universalidade no exercício das obras de misericórdia” e sobre as “exageradas incumbências que se propunha assumir a Obra da Divina Providência”, afirmou categoricamente que “ela tem uma única e bem determinada finalidade, que se propõe, e, quanto a si mesma, não se propõe nenhuma outra, e essa obra é a santificação de seus membros, dos quais o Instituto se compõe, com o intuito de introduzir no povo cristão um dulcíssimo amor ao Santo Padre” (Scritti 72, 185). Isto é, na Congregação o ministério sacerdotal, como todos os demais ministérios da caridade são endereçados e estão em função do fim apostólico carismático: “desenvolver no povo cristão um dulcíssimo amor ao Santo Padre”.


Que fique bem clara esta relação/relatividade do ministério com a finalidade carismática, se quisermos identificar e tornar dinâmicos os nossos ministérios da caridade sustentados pelo ministério sacerdotal. É essa comum identificação carismática que determina os traços característicos de cada ministério e atividade desenvolvidos por nós orionitas.
Deixando de descrever os traços característicos do orionita sacerdote, eu me limito a indicar três claras analogias entre a vida da Igreja no tempo de Dom Orione e a vida da Igreja de hoje, entre a identidade do sacerdote transmitida por Dom Orione e a desejada nos tempos de hoje.
Surgem com uma certa evidência três analogias: 1) a necessidade de fortalecer a unidade pastoral interna da Igreja; 2) a urgência de promover uma ação apostólica mais penetrante (hoje se diria a urgência da “nova evangelização” ou de uma “fronteira missionária”); e enfim 3) a convicção que a ação pastoral deva ser acompanhada pelo testemunho da caridade. A cada uma dessas necessidades da vida da Igreja correspondem atitudes, em Dom Orione e na identidade do orionita sacerdote por ele transmitida, atitudes que se podem resumir em três slogans bem conhecidos: 1) Padres filhos e não servos (ou seja: não meros funcionários); 2) Padres fora da sacristia; 3) Padres de mangas arregaçadas nas obras de caridade.

Ser religiosos “padres filhos, fora da sacristia e de mangas regaçadas” exige diversas modalidades concretas para o orionita nas obras e para o que estiver na paróquia, para o padre jovem e para o ancião, para quem é mais levado ao estudo, para a organização o para o trabalho manual, para quem se dedica mais aos jovens ou aos mais idosos, e assim por diante. Mas para todos significa vida sacrificada a Deus e doada ao bem do povo; em tempo integral e com paixão eclesial. “Com as devidas cautelas”, como escrevia Dom Orione, prudentes em respeitar os tempos de oração, de repouso, de estudo pessoal, mas prontos a aceitar uma piedade perturbada pela caridade para com o povo e uma pastoral sujeita aos regulamentos ordenados pelas necessidades alheias e aos apelos da Providência, prontos sempre, como uma mola esticada pela caridade, a voltar alegres a um ritmo mais de acordo com a regra.

O ano sacerdotal e o exemplo do santo Cura d’Ars

O ano sacerdotal é uma ocasião pastoral para tornar conhecida e amada a vocação e o serviço sacerdotal. Esperemos que sirva também para tornar conhecida e amada a específica vocação do religioso e do orionita sacerdote.


O Papa, entre as muitas figuras de santos sacerdotes, apresentou como modelo para o Ano Sacerdotal São João Maria Vianney. Uma figura de pároco de paróquia, porém a sua grandeza sacerdotal dá também para nós religiosos ótimos estímulos espirituais. Dom Orione costumava apresentá-lo como modelo de sacerdote, a ponto de nomeá-lo entre os seu santos intercessores no “Plano e programa da Pequena Obra da Divina Providência” e a ponto de marcar, na hora da refeição, a leitura da "vida do Venerável Cotolengo e do Cura d'Ars".


Dom Orione exaltava a pureza, o ardor, a caridade, “o ardor do tão humilde Cura d’Ars”, observando que “O Santo Cura d’Ars, a quem foi entregue a Paróquia porque alguém insinuou que, a final das contas, ele sabia rezar o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo, e, no entanto, ele se mostrou o maior e melhor confessor da França” (Parola IX, 498). “Como foi possível que o santo Cura d’Ars se tenha tornado o mais famoso confessor da França? Ele que, intelectualmente falando, era um quase descartado? Porque ele foi um profundo adorador da Eucaristia que cultivava o espírito de oração” (Parola IX, 395).


Dom Orione apresentava São João Maria Vianney, ao lado de São Francisco de Sales, de Dom Bosco, de São Vicente de Paulo, como exemplo de paz interior: “eles eram inimigos da pressa, e ninguém trabalhou mais do que eles! Gente de valia!”. Por outra parte observava Dom Orione que “O trabalho é a paz dos santos. Na vida dos santos não existe o “dolce far niente”(“sombra e água fresca”). Dom Bosco batalhava até arrebentar as pernas. Lacordaire, falando do Cura d’Ars, afirmou que ele tinha a ciência de Cristo” (Parola III, 41).


Em seus escritos Dom Orione cita o Cura d’Ars e muitas vezes repete a conhecida pergunta dele: “Que seria o mundo sem os Sacerdotes? E respondia o próprio Beato Cura d’Ars: a sociedade sem o sacerdócio seria uma jaula de animais ferozes, e o mundo recairia na pior barbárie» (Scritti 46, 218 e 56, 127).

Além da admiração, Dom Orione tinha devoção. Em seu caderno de celebrações anotou: “Recebi de um Padre velhinho, que me atendeu em confissão… um pedacinho de pano da batina do Beato Cura d’Ars” (Scritti 92, 17). Escrevendo a um sacerdote doente recomendou-lhe: “Procura um bom médico e vai fazer uma consulta e depois começa uma novena a São João Bosco e ao Santo Cura d’Ars” (Scritti 43, 212).
Mais ainda. Entre a espiritualidade de São João Maria Vianney e a de Dom Orione há muita afinidade.

O Pe. Venturelli qualifica a fé que havia em Dom Orione como “extremamente simples, fé que ia ao cerne… semelhante, à do Santo Cura d’Ars” (Positio super virtutibus, p.987). E também o Pe. Giuseppe Del Corno testemunhou: “Fazia-me grande impressão o espírito e o estilo das cartas que Dom Orione mandava da América. Nelas eu sempre notava algo do espírito e do estilo do Santo Cura d’Ars” (Ibidem, p.104).


Nosso Santo fundador assemelhou-se as Cura d’Ars sobretudo na paixão pelas Almas e na misericórdia para com os pecadores. Dom Orione desejava “abraçar a todos, exceto ao diabo e, se possível fosse, também a ele; abraçar a todos, menos ao erro manifesto; os transviados não só acolhê-los, mas correr atrás deles” (Scritti 81, 122). Movido pelo ímpeto da caridade chegou ao ponto de escrever: “Almas! Almas! Todas são amadas por Cristo, por todas Cristo deu a vida, todas Cristo quer salvas, entre seus braços e seu coração transpassado. Põe-me, Senhor, na boca do inferno, para que eu, pela tua misericórdia, o feche!”.

Expressões hiperbólicas para impressionar leitores ou ouvintes? Também São Paulo, usou palavras bem semelhantes quando disse: “Quisera verdadeiramente ser eu próprio anatematizado, separado de Cristo em favor de meus irmãos” (Rm 9,1-3). Nessa linha de ardor apostólico se movia igualmente o amável santo Cura d’Ars que gostaria de colocar seu confessionário na porta do inferno. “Se os infelizes condenados que estão no Inferno há tanto tempo ouvissem dizer: ‘Vai ser colocado um padre na entrada do inferno e todos que quiserem se confessar não precisam fazer mais nada, senão, irem-se embora; filhos meus, achais que sobraria alguém lá? Oh! num piscar dos olhos o inferno estaria vazio e o céu se encheria!”.
Ajudem-nos os exemplos do Cura d’Ars a vitalizar este ano sacerdotal e cresça o nosso zelo pelas Almas e a caridade pastoral, nutrida pela experiência da caridade de Deus. Como Bento XVI observou, “O Cura d’Ars, em seu tempo, soube transformar o coração e a vida de tantas pessoas, porque foi capaz de fazê-las perceber o amor misericordioso do Senhor. Urge em nosso tempo fazer ecoar essa boa nova pelo testemunho da verdade do Amor: Deus caritas est (1 Jo 4,8)”.


Fazer experimentar a verdade do Amor de Deus - Dom Orione diria “mediante as obras de caridade fazer experimentar a Providência de Deus” – é o dinamismo gerador da identidade do orionita sacerdote e de toda outra vocação orionita.


* * *



Concluo, caríssimos Confrades, com o convite a olhar para a frente e a viver o evento importante do próximo Capítulo Geral em espírito de fé e di comunhão. Os últimos quatro meses do ano foram caracterizados pela realização dos Capítulos nas Comunidades e nas Províncias da Congregação. Com o “caderno de preparação ao Capítulo” na mão e com as anotações pessoais, demos nossas contribuições ao tema geral do Capítulo “Só a caridade salvará o mundo. Fontes, relações, ministérios, vocações e novas fronteiras da caridade apostólica”. Fui informado de interessantes experiências, tanto das comunidades locais como dos Capítulos provinciais. Agora a documentação está chegando à Direção Geral e uma Comissão pré-capitular (01 a 10 de março) cuidará da preparar o Instrumentum laboris para o Capítulo Geral (30 de maio a 23 de junho). A boa participação dos Confrades è premissa de bons frutos.

Pelo fim de janeiro, juntamente com o Superior da Delegação Missionária de Língua inglesa, o Pe. Malcolm Dyer, irei à Coreia do Sul e lá, se Deus quiser, iniciaremos oficialmente a presença da Congregação com a assinatura do convênio com o Bispo de Masan que nos confiará o atendimento pastoral de um centro para imigrantes. Era a única nova abertura programada para o sexênio e estamos chegando exatamente no final. Prosseguiremos depois em visita às Filipinas onde receberei a Profissão perpétua do primeiro nosso clérigo filipino, Richard Maguad, e daremos um passo à frente para a abertura de uma terceira comunidade na diocese de Lucena.

Recomendo orações pelos caríssimos confrades que nos deixaram nestes últimos meses: Pe. Francisco Lucian, Pe. Jan Kawalko, Pe. Dante Barbaro, Pe. Luigi Candoni, Pe. José Francisco Ciccioli, Pe. Antônio Aparecido Da Silva e Pe. Secondo Ugo Vighi, dos quais se encontram maiores notícias no “Necrológio” dos Atti.
Unamos em nossos sufrágios as nossas Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade: Irmã Maria Elda, Irmã Maria Plautilla, Irmã Maria Luce, Irmã Maria Liliana, Irmã Maria Anna, Irmã Maria Sarina e Irmã Maria Kamila.


Um pensamento também pelos nossos parentes falecidos: o pai do Cl. Valery Brice Ramandrosomanana e do Pe. Getúlio Pereira Da Silva; a mãe do Pe. José Antonio Sanz del Hoyo, do Pe. Juan José Mettini, do Pe. Arcangelo Campagna; os irmãos do Pe. José Gilvan e do Cl. José Márcio Nascimento Silva; o Pe. Nivaldo Antonino, irmão do nosso Pe. Geraldo Dias; a irmã do Pe. Amedeo Mangino, do Pe. Settimo De Martin, do Pe. Joseph Van Cu N’Guyen, do Pe. Damiano Terenghi, do Pe. Stanisław Pawlina e a Irmã Emiliana, irmã de nossos confrades o Pe. Pietro e o Pe. Belisario Lazzarin.

Confiamos à divina misericórdia todos os nossos Amigos, Benfeitores, Ex-Alunos falecidos que contribuíram para o bem da Pequena Obra, entre os quais cito, por ter recebido notícia, Orazio Tonelli (Genova), Victor Signorio (Chile), Pedro Vianna (Brasil sul), José Batistella (Guararapes) e Nazzareno Malfatti, que foi nosso confrade e missionário(Chipre). A todos o Senhor lhes dê o seu eterno Amor.


Um pensamento e uma oração especial também por todos nossos enfermos: Deus lhes conceda a graça de aceitar e oferecer a Jesus seus momentos de dor, em espírito de apostolado.
A todos vá a minha cordial saudação acompanhada pela oração.
Em Cristo e em Dom Orione,


Sac. Flavio PELOSO, PODP
(superior geral)

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